OS RATOS NOS AÇORES: ESPÉCIES EXISTENTES E A SUA INTRODUÇÃO
Nos Açores, ocorrem em todas as
ilhas três espécies de roedores. A espécie
Mus musculus
(Linnaeus,
1758) designada vulgarmente por murganho, ratinho ou rato doméstico, a espécie
Rattus rattus (Linnaeus,
1758) designada vulgarmente por ratazana preta ou rato de quinta e a espécie
Rattus norvegicus (Berkenhout,
1769) designada vulgarmente por ratazana castanha ou ratazana de esgoto.
Estas três espécies de roedores sinantrópicas
(que vivem próximo e/ou nos mesmos ambientes do Homem aproveitando-se de
alimentos e de abrigo para seu benefício) foram introduzidas acidentalmente nos
Açores.
Estas espécies sinantrópicas,
ao contrário dos animais domésticos, são geralmente indesejáveis por vários
motivos, entre os quais se destacam a possibilidade de poderem transmitir
doenças, bem como a de destruírem e inutilizarem alimentos.
As espécies Rattus rattus e
Mus musculus foram introduzidas no início do
povoamento das ilhas enquanto que a espécie Rattus norvegicus terá sido, de acordo com
bibliografia existente, introduzida posteriormente no século XIX.
A chegada de ratos aos Açores dá-se por isso com a
chegada das primeiras embarcações que atracaram nas costas destas ilhas.
Gaspar Frutuoso (1522-1591) autor
da notável e importante obra sobre a História dos Açores ‘’Saudades da Terra’’
possui algumas referências e informações extremamente interessantes sobre a
existência de ratos nos
Açores na referida obra, algumas das quais abaixo se transcrevem.
- ‘’Ao redor deste ilhéu,
principalmente antre ele e a terra, é lugar onde os
navios têm bom ancoradoiro. Havia neste ilhéu muitos coelhos que não há já
agora, porque os ratos os
desinçaram e achavam os láparos comidos deles pelas cabeças’’. (Frutuoso,
1591a).
- ‘’Estes cágados se criariam bem
nesta terra por esta experiência que se achou, como se criam doninhas e
infinidade de ratos’’.
(Frutuoso, 1591a).
- ‘’Há infinidade de gado vacum e
ovelhas, e muitos porcos mansos e do monte, e algumas cabras, com que é
abundantíssima de leite, manteiga, nata, queijos e requeijões e preciosas
queijadas, e grande criação de éguas, de que há muitos e bons cavalos e mulos e
mulas, asnos, bons cães de caça, que tomam muitos coelhos, que há na terra,
furões, ratos e doninhas, sem haver bichos maus,
nem cobras, nem lagartos, nem lagartixas’’. (Frutuoso, 1591b).
- ‘’Tem estes ilhéus em cima alguns
zimbros e muito braceo e cubres,
e criam neles estapagados e boeiros
por não haver ali ratos,
havendo na ilha muitos’’. (Frutuoso, 1591b).
- ‘’Tem muitos ratos, que fazem grande dano nas
searas’’. (Frutuoso, 1591b).
- ‘’Tem também este meirinho cuidado,
quando vão os batéis da ilha das Flores ao ilhéu, de os ir buscar muito bem e
ver que não vão ratos
neles, pois os não há no ilhéu, como há tantos na ilha das Flores, que, com
fome tiram as lapas das pedras, e, pondo algumas abobras a assar, se se
descuida quem as põem ou dorme, ali lhas vão os ratos
a comer diante dele, pelo que é necessário ter um pau na mão pera os enxotar e
desviar, porque não tem vida com eles’’. (Frutuoso, 1591b).
De facto, pela leitura das
transcrições da obra de Gaspar Frutuoso é já possível constatar que a
existência e a proliferação de ratos
em grande parte das ilhas dos Açores é um problema dos primórdios do povoamento
dos Açores.
Fontes:
•Frutuoso, G. (1591a). Saudades da
Terra. IV (1981). Ponta Delgada, Açores. Instituto Cultural de Ponta Delgada.
•Frutuoso, G. (1591b). Saudades da
Terra. VI (1981). Ponta Delgada, Açores. Instituto Cultural de Ponta Delgada.
A IMPORTÂNCIA DO CONTROLO DE RATOS NOS AÇORES
Os ratos são um problema à escala global pelo facto de serem extremamente prejudiciais para o Homem. A presença de ratos origina problemas sérios e em muitos casos nefastos. Os ratos põem em risco a saúde, segurança e bem-estar das populações, a saúde e produtividade animal, para além de destruírem culturas e alimentos armazenados. Os ratos podem também ser responsáveis pela destruição de habitats e constituírem uma ameaça à biodiversidade.
A chave para o sucesso dos roedores reside principalmente na sua grande capacidade de adaptação.
No entanto existem outras capacidades e características dos roedores que lhes conferem grande sucesso, entre as quais se destaca:
- Fecundidade elevada;
- Início precoce da atividade reprodutiva;
- Gestações curtas;
- Muitas ninhadas no ano;
- Muitos indivíduos por ninhada;
- Grande capacidade de dispersão e de mobilidade;
- Agressivamente competitivos;
- Predadores agressivos;
- Versatilidade da dieta;
- Grande diversidade genética e rápida evolução.
O controlo de roedores é por isso extremamente importante para a prevenção de problemas ambientais, económicos e sanitários resultantes da sua presença.
Os ratos são responsáveis pela transmissão de diversas doenças ao Homem e aos animais entre as quais se destaca a Leptospirose, uma doença grave cuja taxa de incidência nos Açores é bastante elevada (11,1/100.000 habitantes) e cuja maioria dos casos é provocada por leptospiras que têm os roedores como o seu principal reservatório.
A leptospirose é uma doença bacteriana que afeta seres humanos e animais e que pode ser fatal.
É uma zoonose causada por uma bactéria do tipo Leptospira que é eliminada principalmente na urina de roedores.
É uma bactéria extremamente resistente à água. A água e urina servem por isso de meio de propagação.
Esta bactéria invade/penetra o Homem através de lesões da pele e/ou mucosas (oral, nasal e ocular). Os principais órgãos alvos são o rim, fígado, cérebro e pulmões.
De acordo com bibliografia disponível, mais de 50% dos ratos das ilhas de São Miguel e Terceira estão infetados pelas bactérias causadoras da Leptospirose.
Peste, tifo murino, hantaviroses, salmoneloses, toxoplasmose e sarna são exemplos de outras doenças em cuja transmissão os roedores participam de forma direta ou indireta.
O acesso fácil a alimento e água, associado ao clima, fauna, flora e geomorfologia, potenciam a proliferação de roedores nas ilhas dos Açores.
A proliferação de roedores na Região Autónoma dos Açores constitui particularmente uma circunstância que afeta a sustentabilidade ambiental do ecossistema, pondo em risco a saúde pública, a saúde animal, as culturas e a biodiversidade.
O controlo de roedores através da aplicação de rodenticidas não deve ser a única medida a ser considerada no combate e eliminação deste tipo de animais. A utilização exclusiva de rodenticidas é ineficaz para o controlo de roedores.
Para além das medidas ofensivas (de eliminação) o controlo de roedores deve ser sempre complementado com medidas preventivas e corretivas.
De entre as medidas preventivas e corretivas a considerar dever-se-á privilegiar todas aquelas que eliminem ou limitem o acesso a fontes de alimento e abrigo, designadamente a higienização das instalações e a manutenção das mesmas, quer a nível interior quer a nível exterior.
Legislação regional:- Decreto Legislativo Regional n.º 31/2010/A, de 17 de novembro – Estabelece medidas de prevenção, controlo e redução da presença de roedores invasores e comensais
- Portaria n.º 98/2012, de 18 de Setembro - Aprova os requisitos técnicos dos planos de controlo integrado de roedores a que as entidades públicas ou privadas, que exerçam alguma das atividades referidas no artigo 3.º do Decreto Legislativo Regional n.º 31/2010/A, de 17 de novembro, em instalações fixas e que estejam sujeitas a aprovação oficial, se encontram obrigadas
- Portaria N.º 32/2015, de 13 de Março - Aprova os requisitos técnicos dos planos de controlo integrado de roedores invasores e comensais a que as entidades públicas ou privadas se encontram obrigadas. Revoga a Portaria n.º 98/2012, de 18 de setembro.
Documentação de apoio:Links com informações úteis:
http://www.azores.gov.pt/Portal/pt/entidades/sraf-drdr/textoTabela/Roedores