As térmitas são uma das pragas urbanas
que mais prejuízos causam em todo o mundo devido ao facto de atacarem
componentes estruturais de madeira de qualquer tipo de edifício, tais como
soalhos, tetos, coberturas, bem como quaisquer outros tipos de elementos de
madeira, nomeadamente portas, janelas, rodapés, mobílias, obras de arte, etc.
A presença de térmitas nos Açores está
confirmada em seis das nove ilhas que constituem o arquipélago, tendo sido a
primeira identificação ocorrida no ano 2002, na ilha Terceira (Borges et
al., 2004).
Até ao momento sabe-se que existem quatro
espécies de térmitas nos Açores: a
Kalotermes flavicollis (térmita de madeira húmida
Europeia) que é conhecida nas três ilhas mais populosas (São Miguel, Terceira e
Faial); a
Cryptotermes brevis (térmita de madeira seca das Índias
Ocidentais), que para além de existir nas mesmas ilhas foi também identificada
nas ilhas de Santa Maria, São Jorge e Pico; a
Reticulitermes grassei (térmita
subterrânea europeia), que está apenas referenciada para a ilha do Faial
encontrando-se num grau de infestação preocupante; e finalmente, a
Reticulitermes flavipes
(térmita subterrânea do Leste dos Estados Unidos), referenciada para a zona de
Santa Rita no antigo Bairro Americano (ilha Terceira) (Paulo Borges, Com.
Pessoal).
Nas restantes ilhas do arquipélago
(Flores, Corvo e Graciosa) não há ainda registos oficiais da existência de
térmitas.
Estas espécies, todas exóticas, chegaram
aos Açores há algumas décadas, encontrando-se atualmente bem estabelecidas
(principalmente a térmita da madeira seca –
Cryptotermes brevis)
temendo-se que alastrem para outras zonas das ilhas onde neste momento existem
bem como para as outras ilhas onde até à data não está confirmada a sua
presença.
O acompanhamento da expansão destas
espécies e os crescentes danos por elas causados em imóveis, em particular pela
infestação por
Cryptotermes brevis,
veio comprovar que as condições climáticas existentes na região litoral do
arquipélago, aliadas ao tradicional recurso pela arquitetura civil açoriana a
coberturas, tetos e soalhos em madeira, criam condições favoráveis à expansão
da infestação por térmitas e potenciam graves danos ao património existente.
A térmita da madeira seca
A térmita da espécie
Cryptotermes brevis é considerada a espécie de térmita
de madeira seca mais destrutiva do planeta.
A espécie
Cryptotermes brevis
(Walker,
1953) (Kalotermitidae)
(cerca de 6-8 mm de comprimento) está presente em Angra do Heroísmo (Terceira),
Ponta Delgada (São Miguel), Calheta (São Jorge), Horta (Faial), Lajes (Pico) e
Santa Maria. Trata-se de uma espécie de madeira seca com origem num clima
desértico da América do Sul (Chile), onde as temperaturas atingem valores
elevados durante o dia e muito baixos durante a noite, sendo a pluviosidade,
neste local, muitíssimo rara (Scheffrahn
et
al., 2009). A sua dispersão ocorreu com o importante auxílio humano, tendo-se
espalhado por todo o mundo, através de navios e madeiras importadas. Esta
espécie embora seja de madeira seca necessita de uma certa humidade, pelo que
se dá muito bem em ilhas (Evans et al.,
2004).
Como se alimentam de madeira seca, todas
as madeiras antigas e não tratadas são um alvo potencial de ataque e posterior
destruição. Inicialmente, as térmitas não são observáveis porque fecham os
orifícios externos das galerias, sendo a sua presença apenas notada quando as
fezes (pelotas fecais) são expulsas e se aglomeram nos soalhos. Nesta altura as
colónias já provocaram extensos danos. Deste modo, o seu combate não é uma
tarefa simples (Gold & Jones, 2000). A reprodução dá-se ao fim de quatro
anos após um casal colonizar a madeira. Os meses de Maio a Setembro são aqueles
em que os novos casais alados procuram orifícios para colonizar novas partes
das habitações, para aí acasalarem.
Apesar da sua deteção apenas ter sido
cientificamente comprovada em 2002, numa fase em que a praga já ocupava
extensas áreas das cidades de Angra do Heroísmo, Ponta Delgada e Horta, a
térmita de madeira seca,
Cryptotermes brevis,
constitui atualmente a praga urbana mais preocupante nos Açores, cujos impactos
económicos e patrimoniais têm suscitado uma preocupação considerável, quer do
Governo Regional, bem como dos cidadãos e da comunidade científica (Borges
& Myles,
2007).
A espécie
Cryptotermes brevis
possui um ciclo de vida complexo com várias castas.
Estas térmitas podem apresentar
essencialmente duas formas conforme a altura do ano. Nos meses compreendidos
entre Maio a Setembro podem observar-se térmitas na sua fase alada. No resto do
ano as térmitas vivem no interior da madeira e apresentam predominantemente a
forma de segregados.
As segregadas possuem um papel importante
e são caracterizadas por executarem todas as funções de rotina, tais como a
obtenção de alimento, alimentação de outras castas, incluindo o rei (pai) e a
rainha (mãe) a eliminação de indivíduos doentes ou mortos e cuidados com os
ovos.
Em determinadas alturas no verão
formam-se ninfas aladas que dão origem aos adultos alados que têm como função a
procura de outros locais para fundar novas colónias. Em algumas situações como
a morte da rainha podem mesmo formar-se reprodutores de substituição a partir
de segregadas.
Fontes:
• Borges,
P. A. V. & Myles, T. (eds.) (2007). Térmitas dos
Açores. Principia, Estoril, 126 pp.
• Borges,
P.A.V., Lopes, D., Simões, A., Rodrigues, A, Bettencourt, S. & Myles,
T. (2004). Determinação da Distribuição e Abundância de Térmitas (Isoptera)
nas Habitações do Concelho de Angra do Heroísmo. Departamento de Ciências
Agrárias, Universidade dos Açores, Angra do Heroísmo. 34 pp.
• Evans,
A.V., Garrison,
R.W., Schlager,
N. & Trumpey,
J.E. (2004). Grzimeck´s
Animal Life
Encyclopedia.
Thomson, Gale.
• Gold,
R.E. & Jones, S.C. (2000). Handbook
of
Household
and
Structural
Insect
Pests.
Entomological
Society
of
America,
U.S.A.
• Scheffrahn
R. H, Krecek,
J., Ripa, R. & Luppichini, P.
(2009). Endemic
origin
and
vast
anthropogenic
dispersal
of
the
West Indian
drywood
termite. Biological
Invasions,
11: 787–799.